domingo, 6 de março de 2011

HEY, DUDE!

Muitos amigos meus já me recomendaram este filme, e toda vez que surgia o assunto em uma roda de bate-papo confesso que ficava com vergonha...e pensava cá comigo: "porque diabos ainda não vi essa porcaria?". Eu tô falando de 'O grande Lebowski', dos Coen, outra vez eles! Acontece que toda vez que ia à locadora me esquecia dele, olhava dezenas de filmes e ele, escondido lá na sessão de comédia (que frequento pouco, é verdade) me escapava dos olhos.

O fato é que nesse começo de carnaval fui decidido pra locadora e finalmente conheci 'o cara'. Isso mesmo, 'o cara', 'the dude' em inglês. O protagonista chama-se Jeffrey Lebowski, mas gosta mesmo é de ser chamado de 'the dude'. É interpretado pelo arrasador Jeff Bridges, veterano e vencedor do Oscar de melhor ator no último ano por 'Coração louco'. O cara (chega de aspas) é tranquilão, pacifista, nem um pouco apegado em dinheiro e largado ao extremo. Vê-lo de roupão e ciroula pelo super-mercado é normal. Ele adora boliche, e as cenas de jogo são uma delícia (me fizeram correr pro wii e jogar um pouco, tirando a poeira do coitado). Sua casa é simples, mas o tapete da sala harmoniza bem os demais elementos. Até o dia em que resolvem dar um susto nele, mijando no seu tapete e enfiando a sua cara na privada. Tudo por causa de uma dívida...que não é dele. Ah, homônimos e as confusões muitas vezes inevitáveis que surgem de ter um xará.

O traço marcante do filme é aquele comum a muitos outros filmes dos irmãos Coen: o acaso, um momento de bobeira e todo o destino de um vida muda de rumo. O cativante cara se vê, sem nem perceber, envolvido numa confusão que ganha maiores proporções a cada passo que ele dá contra seu estilo de vida, sua personalidade e seus princípios. É largar o sossego que o cara se complica inteiro, junto com seus parceiros de boliche, um bobão atrapalhado vivido por Seve Buscemi e um hilário veterano do Vietnã interpretrado por John Goodman, o 'Fred' do filme dos Flintstones. Sequestro, muita grana envolvida, rivais malucos (incluindo alemães niilistas, um empresário megalomaníaco paraplégico e um competidor de boliche chamado 'Jesus') e dor de cabeça pro dude. Ah, o tapete compunha bem a sala...mas podia ter sido trocado por outro qualquer.

O que esse filme tem de demais? Um primeiro olhar pode nos dizer que nada. Mas não passa de uma primeira impressão apressada demais. Sonhei com o filme, pensei demais nele, me diverti não só durante, mas em muitos momentos depois, lembrando e dando risada sozinho. Porque? É simples, nenhum grande segredo: o cara pode ser aquele seu vizinho, amigo, tio solteirão, amigo do amigo...e tudo o que acontece com ele, por mais inusitado que possa parecer no começo, são coisas que acontecem na nossa vida, na do vizinho, na do amigo, na do tio solteirão...esse humor é o que mais me faz rir: o absurdo crível, o inusitado possível. Quem não tem uma história absurdamente verdadeira pra contar? 'O grande lebowski' dá um clique na cabeça do espectador, e nos faz lembrar de que a vida pode ser tão incrível, absurda e cômica quanto a ficção. E não tem muito mais graça quando é de verdade?  

Talvez por isso o cara tenha se tornado um dos símbolos do cinema contemporâneo. Gente boa, da paz, feliz com o que tem e conformado com o que pode vir a ter. Ou não. Passe o que passar, aconteça o que acontecer, como na vida real (e esse não é um retrato dela?) o cara supera, não leva desaforo pra casa, engole sapo quando não dá e sobrevive. E já que a intenção é esta, sobreviver, que seja pelo menos com estilo, e que no final sobre muita história pra contar. Como no caso do cara, que no auge de sua tranquilidade e desapego vive aventuras pruma vida toda, pra sorte dele e nossa. Não precisa de muito pra ser protagonista da nossa própria vida, é o que ensina Jeff. Basta viver, sem muita preocupação, e venha o que vier!

Clint.

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