quinta-feira, 14 de abril de 2011

Matt Damon e o Iraque

'Zona Verde' é um filme muito bom. Retarata a invasão do Iraque pelos EUA, na fatídica guerra que todos conhecemos bem, transmitida ao vivo pros lares do mundo todo, com direito a bombardeios noturnos filmados com aquelas câmeras especiais que deixam tudo verde e vídeos da derrubada de estátuas do Saddam e do próprio, enforcado, tomando conta do Youtube.

A geração século XXI, que cresce em meio a tanta tecnologia, vive a guerra de um modo muito diferente de algumas décadas atrás. Imagina só, ficar sabendo tudo pelo rádio, imaginando sem poder visualizar, os horrores que, ora longe, ora perto, ocorriam no campo de batalha. Imagina receber notícias de quem se ama e está na guerra por cartas, que demoravam meses para alcançar seus destinos. Pior, imagina a ausência de cartas, notícias, sinais de vida. O que hoje se espalha pelo mundo em milissegundos, antes demorava tempo angustiante, só não maior do que o tempo de ter de volta quem partiu em campanha. Impossível não lembrar da cena de 'O resgate do soldado Ryan' em que a mãe, lavando louça na cozinha, vê pela janela, ao longe, um carro preto levantar poeira na estrada do sítio. Carros pretos do exército não trazem boas notícias, ela sabe, e por isso logo o desespero contido por meses se traduz em choro.

Voltando aos dias de hoje, em meio a tanta informação, difundida pelos mais variados meios, tudo se soube sobre a guerra do Iraque, tudo se viu ao alcance de um clique. Menos as tais armas de destruição em massa que justificaram a investida de Bush no Oriente Médio. Não vou ficar falando disso porque todo mundo já se cansou de ouvir que tudo não passou de um grande desculpa, seja na tv, seja na sala de aula do colégio, do cursinho, da faculdade, seja na conversa de bar, naqueles poucos (ainda bem!) momentos em que o papo fica sério.

O pano de fundo é esse e, então, a ação come solta. Ação de primeira qualidade. Não sou daqueles chatos que só gostam de filme de fora do mainstream. Curto de tudo, e do gênero ação sou fãzaço. Gosto de Rambo, idolatro os 007, curti demais 'Esquadrão Classe A' e surtei com 'Os mercenários'. Mas não tem como negar que aqui o patamar é outro, por conta da proposta, é verdade.

Paul Greengrass é o responsável por tudo isso por trás das câmeras. Foi ele que  reinventou o cinema de ação com a trilogia 'Bourne', que eu amo. O super capacitado espião sem memória vivido por Matt Damon conquistou o público e a crítica e forçou mudanças em franquias consagradas e milionárias, 007 que o diga. 'Cassino Royale' deu outro rumo à série de filmes de James Bond, fortemente influenciado por 'Bourne'.

Greengrass retorna em grande estilo com 'Zona verde', retomando sua câmera trepidante, dentro da ação, com cortes rápidos, montagem ágil e trilha sonora de primeira. Matt Damon, o menino dos olhos de Greengrass, dá conta do recado outra vez e mostra que com ele o chumbo é grosso. Destaque para a edição de som. Esse filme foi feito para assistir em 5.1, com o volume bem alto, pra não perder um vôo de helicóptero ou saraivada de balas sequer. Som bom assim em filme de guerra eu não via desde 'O resgate do soldado Ryan'. 

Além das qualidades técnicas da obra e das circunstâncias históricas explosivas, o roteiro é muito bem amarrado e o final é excelente. Sem essa história de bom moço ou heroísmo, o filme consegue passar uma mensagem de noção de responsabilidade, que tanto homens armados quanto nós, civis da vida pacata, devemos sempre ter. Ponto para Greengrass e Damon, sinal verde para o filme! 

Clint. 

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