Alguns desavisados, ao se depararem com um filme que leva o nome de um famoso espetáculo de dança, compram seus ingressos na expectativa de vivenciar as sensações de encantamento, leveza, e magia que o balé nos proporciona.
Pois quem espera isso de Cisne Negro vai levar no mínimo um susto! No mínimo porque os danos podem ser maiores, caso você tenha a infelicidade de levar sua sobrinha e bailarina prodígio da família pra assistir com você. Parece absurdo? Pois na sessão nada vazia em que eu tive o prazer de ver, ouvir e sentir Natalie Portman, contei quatro irresponsáveis retirando-se da sala com suas pequenas estrelas dos palcos escolares e seus olhinhos arregalados. (Ok, não era possível enxergar se os olhos estavam de fato arregalados, mas eu tenho certeza absoluta que sim.)
Isso porque o filme é denso, pesado, forte. Cenas de sexo, drogas e rock`n roll balé clássico. Nos defrontamos com o não tão glamuroso mundo por trás das coxias, onde a maquiagem e o figurino dão lugar à muito suor e sangue, literalmente! (Ou vocês acham que aquele instrumento de tortura, também conhecido como sapatilha de ponta, é uma pantufa?).
Assim como no esporte, na dança as bailarinas atingem seus limites físicos, e buscam superar-se dia após dia. (A gente só esquece disso porque elas não fazem cara de triatleta no último terço do percurso, ao contrário, mantêm o tempo todo a postura da firmeza delicada.)Além disso, numa grande companhia, onde só as melhores são aceitas, as bailarinas competem entre si pelos papéis que as montagens oferecem.
Lidar com a concorrência nunca foi tarefa das mais simples. No caso da nossa protagonista, some-se a isso uma mãe obcecada e controladora, mas que mantém a pose da bailarina o tempo todo (aquele semblante de que está tudo sob controle enquanto os dedos do seu pé sangram enlouquecidamente) e você tem a receita perfeita para a tensão. ( Achei a figura da mãe bem forte, e muito boa a interpretação da atriz que a representa. Só não chama mais atenção porque a protagonista preenche a cena de forma quase assustadora.)
Natalie Portman está sensacional como uma jovem bailarina tímida, reservada, e até mesmo um pouco infantil em alguns aspectos, mas obcecada com a perfeição. No decorrer da história, a personagem é forçada a amadurecer, mas o rígido controle que ela exerce sobre seu corpo, não tem a mesma força quando se trata da sua mente.
Conforme o psicológico da personagem, que desde o inicio dá sinais de fraqueza, caminha em direção ao desequilíbrio, o filme caminha em direção ao surreal, e o expectador por vezes se confunde entre a realidade a fantasia. É isso mesmo, você sai do filme sem distinguir com certeza o que de fato ocorreu e o que não passou de uma projeção fantasiosa da protagonista.
Mas essa confusão não me frustrou. Ao contrário, ela me fez vivenciar de forma profunda o drama da personagem. Enquanto ela se perde entre o mundo real e sua própria imaginação, você se perde junto. Esse é o milagre do filme, possibilitar que você sinta de forma tão intensa, que acaba se tornando cada vez menos expectador e cada vez mais personagem.
É claro que isso não seria possível sem a atuação brilhante de Natalie Portman. Quem achou que ela estava incrível em “Closer” ou em qualquer outro de sua filmografia, vai ter certeza que é aqui que ela atinge seu ápice. A atuação que já começa boa, se torna simplesmente impressionante com a virada da personagem. Fora que a criatura dança de verdade! Estou completamente encantada!
Desejo um Double merecido de estatuetas pra este!
Audrey
Audrey
ps: estou repentindo o post do dia 14 de fevereiro porque probleminhas de configuração do blog não permitiram que fossem postados comentários dos visitantes na antiga postagem.
Assisti em Curitiba e não sabia nada sobre a sinopse do filme. Confesso que fui pego de surpresa e gostei muito. A atuação da Natalie é única e nada mais justo que a indicação ao Oscar - e provavelmente a vitória no domingão da próxima semana. Acho que as alucinações que ela tem durante longa me lembraram "O iluminado" em alguns momentos.
ResponderExcluirGostei muito da ideia de vocês com esse novo blog.
Beijão.
Viniz
Fantástisco..quantas pessoas não se veem presas as expectativas dos outros? nina está completamente emoldurada pela vontade de sua mãe, pela sweet girl que ela quer q nina seja.. no fundo, ela nunca se sentiu confortável com o papel, mas tem tanto medo de sair dele e falhar que precisa chegar às ultimas consequencias para se libertar, a força pisicologica não foi suficiente pra ela..apesar de não enxergar outro final fiquei mtu triste! pq eh um final injusto, apesar de inevitável.
ResponderExcluirGostei demais, realmente te faz sentir todo o tipo de coisa e a natalie está incrível!
Viniz: que bom que gostou do blog! venha nos visitar mais vezes! estou na torcida pela natalie!! ah, acredita que eu nunca assisti o iluminado? mas tenho um motivo pra isso, quero ler o livro primeiro! eu ganhei de presente de um amigo, mas paro nos primeiros capítulos pq me dá mto medo! hahahaha! Vou criar vergonha na cara e enfrenta-lo, isso já está ficando ridículo...
ResponderExcluirPati: Eu tinha certeza que vc ia gostar!! adorei seu comentário e concordo especialmente com o que vc disse sobre o final: inevitável, porém injusto! Beijos!!!
Esse aí é TENSO mesmo. Concordo com tudo o que o post diz (muito embora não possa dizer com certeza sobre como é usar uma sapatilha de balé, por que ainda não tive essa enriquecedora experiência) e só estou fazendo questão de falar mesmo porque acho que não podem ser esquecidos uns dois personagens importantes do filme:
ResponderExcluir1-A CÂMERA- É impressionante como ela não sai da cara da Natalie Portman, e fica tremendo o filme inteiro. Você fica o tempo todo inundado pelo (lindo) rosto dessa atriz fantástica, mas a agonia que dá essa câmera que quase nunca abre eu acho que foi uma das razões pelas quais eu passei o filme inteiro sentado na ponta da cadeira.
2- O SOM- Quase nunca reparo nessas coisas técnicas, mas não deu pra deixar de notar que nesse filme se ouvem MUITOS barulhinhos de cena (passos, batidas de porta, nhec-nhecs genéricos), todos mais alto do que o normal, e acho que isso contribui muito pra sensação de opressão que essa tal Audrey comentou no post dela.
filme genial, post muito bom, blog super promissor. =D